quinta-feira, 6 de março de 2008

Dois parágrafos

Fui pegar o 020 no T. Praça da Bíblia, o relógio anunciava mais ou menos uma hora da tarde, o dissonante treze impregnado no tempo e eu entrando no ônibus junto com aquele fluxo ininterrupto de gente entrando entrando e entrando e empurrando e jogando a gente para cima dos assentos, acabei caindo em um assento ao lado de um sujeito um tanto arrumado, parecendo ter sua situação financeira parecida ou mais favorável que a minha. Ele era, de fato, um rapaz com roupas comuns: calça jeans, boné, camiseta ilustrada, tênis e barba jovial... Nada de importante, fiquei na minha, foi quando apareceu um homem metade desarrumado metade nem tanto, com boné, camiseta vermelha sem mangas, bermuda e chinelo, ele tinha uma feição de garoto de rua com uma feição de marginal favelado, típico cheira-cola, afinal ele cheirava a cola, junto a ele estava uma moça, esta prefiro resumir: ou ela saiu de um romance naturalista bem a moda brasileira ou dos quintos do inferno. Os dois fediam, mas não me importei, apenas me retirei do banco pedindo a um deles para se sentar e fui ficar de pé, até meio com remorso de um certo preconceito tido por eles, além do mais, os três conversavam entre si e eu estava odiando aquilo, a conversa envolvia palavreados e impropérios que eu não estava gostando, pois, estava de pé e aquilo não estava me incomodando mais... o tempo de uma aposiopese passa e eles começam a incomodar, não só a mim, mas todos no ônibus, a segunda pessoa descrita neste relato era um drogado que resolvia se intrometer nas conversas das pessoas, ameaça-las e bater na janela querendo impor alguma coisa, falava mole e xingava, a moça era um demônio, além dela irritar a todos com o estrepitoso barulho de sua boca a mastigar algo gosmento, falava alto palavrões, ria do drogado e de uma quarta pessoa não descrita neste relato, quase estas pessoas foram expulsas do ônibus, pelo menos estas poderiam ser expulsas, mais à tarde, no ônibus indo do Centro para o Veiga Jardim, vi uma invasão de vários cheira-cola, eram muitos, tantos que eles passavam por baixo da catraca usando do medo do motorista para ele não fazer nada, além de xingarem e ameaçarem uma ou duas pessoas do ônibus, enojavam o ônibus inteiro com o odor que vai de cola à urina. Não era agradável ver principalmente os trabalhadores e senhores que pegam aquele ônibus fazerem de tudo para tapar o nariz enquanto eram desrespeitados... A título de curiosidade, peguei nove ônibus hoje...

Naquela manhã, eu estava lá observando um trabalho de extensão ser defendido entre emoções, feminismos e política dentro da Faculdade de Letras, já havia observado antes uma apresentação de projeto, não me lembro se era um início de um projeto de mestrado ou se era uma apresentação de conclusão de curso, lembro do tema, que era: A Função Social da Arte, com base em um livro de Victor Hugo chamado em nossa língua materna de “Os Miseráveis”, lá uma das meninas da platéia que já havia apresentado antes seu trabalho disse que se a arte se manter no campo da estética ela irá se acaba, pois nosso tempo anda fascinando-se mais com a tecnologia e com os trabalhos sociais, fiquei entristecido com o utilitarismo daquelas palavras e daquela apresentação. Eu amo a estética, eu valorizo o inútil, eu existo como homem e não quero virar máquina.

quarta-feira, 5 de março de 2008

O fugato grosso e uma grande fuga...

Repetidamente estou ouvindo a Grosse Fuge de Beethoven, esta foi, se não estou enganado, a última composição deste Músico. É linda... Tudo começou em uma manhã de domingo, eu acordei, tomei café, andei pela casa feito uma barata tonta, pensei em escrever e acabei dormindo de novo, acordei de novo, fui ao banheiro e ouvi gritos, fui ver o que era, ele estava destruído...
Meu violão quebrou, na hora nem pensei nisso, tornou-se um clima tão pesado, fúnebre e repleto de angústia na minha casa, chegando, inclusive, na casa da minha avó, que nem pensei no violão, a ficha só foi cair depois, bem depois de eu ter ligado para o meu professor e falar de meu desespero... Calma, vamos dar um jeito, e damos, um amigo meu me emprestou o violão dele (meus sinceros agradecimentos a ele), no entanto eu vou precisar de um novo violão antes das coisas caírem na minha cabeça...

Fiquei, no entanto, três dias sem estudá-lo, minha semana começou sexta, passou por sábado e pulou para quarta, não deu tempo de estudar a Pavana do Ravel para amanhã, isso deixa gente chateada, mas a maior chateação é comigo mesmo, além do mais, soube que vai sair um violão de um luthier goiano para final deste mês, mas o preço é 2.500 reais, como eu vou arrumar este dinheiro para o final deste mês eu não faço a menor idéia...

As coisas estão difíceis, começou com um violão quebrado, meu celular estraga, a chapa onde esquento os meus pães com manteiga quebra, quero chamar um amigo para sair e desabafar e isso só foi possível domingo, pois além do celular estragar, minha internet some, só reaparecendo hoje, fiquei portanto, com as únicas opções: escrever (graças a Deus eu tenho esta opção, mesmo sendo na madrugada), tomar café, ir para meu primeiro período na Faculdade de Letras e tentar resolver minha vida...

Estou triste, ninguém sabe como eu fico por não ter estudado mesmo sendo vítima das causalidades, e uma coisa que eu só tenho a prestar contas comigo, um louco desleixado e perfeccionista que sabe perdoar a todos, menos a si próprio...

Vou continuar a ouvir Beethoven, que segundo meu amigo Guilherme é a razão de minha mente doentia...