quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A pessoalidade e o raciocínio delirante, ou a conclusão da cama.

Passaram, na minha cabeça, vários conceitos prontos para serem contestados por culpa de um incômodo agora sentido por mim, um dos primeiros foi o de justiça, e daí fui até ao conceito de escrever bem (tá certo, esse aí é bem deformado hoje em dia), no entanto esconde-se atrás dessas críticas sem o menor grau de academicismo a conceitos contra os quais os filósofos se jogam, e não eu, algumas noites mal dormidas, a obsessão pela beleza e pela perfeição junto a certas frustrações (frustrações até por conseguir fazer algo bom e não conseguir fazer algo tão bom depois), o trauma – e a lição de vida – por estar lendo um dos maiores poemas da literatura brasileira, a consciência me cobrando as coisas necessitadas de serem escritas, uma outra obsessão pela comunicação e pela coerência junto a pessoas cegas e incoerentes, e pessoas cegas e incoerentes com as quais preciso me relacionar, preciso ser gentil, não por trabalhar como atendente de uma clínica psiquiátrica, pois eu não trabalho em clínica psiquiátrica, não impedindo o fato a convivência com loucos.

É mais interessante para você, caro leitor sendo tratado por um fato sincrônico da língua portuguesa do Brasil, o último fator citado no desparágrafo disparado anterior, pois além das minhas noites insones e minha vida literária não lhe interessar ainda (e coloco esse ainda com a maior humildade e certeza de um trabalho duro) a maioria de nós possui o horrível prazer em não cuidar de sua própria vida pessoal, portanto fá-lo-ei a parte da última razão para o meu incômodo.

Há tempo me sinto sozinho, não a solidão agradável da auto-suficiência para a visão das coisas e da elaboração de um plano metafísico próprio e a cosmogonia interna para a fundação de sua própria mitologia, no sentido aristotélico de mito, (falar disso me dá prazer o suficiente para não querer parar de falar) mas a desagradável solidão do sintoma de um dos problemas de comunicação. Não a guerra, tampouco a revolução, mas a crise, não ter por onde dar ou receber o misterioso som do imperativo realizador de nossa racionalidade... ou talvez algo não tão drástico, talvez o simples sentimento humano e comum de solidão, resumido em poucas palavras ou em grandiosos textos pertencentes a poesia dos homens e das coisas, a fraca irritação da adolescência, resolvo-me assim no intimismo de falar da minha cama, a minha cama me é vazia ao ponto de fugir dela quando estou sonâmbulo, e as pessoas são vazias como a minha cama, fogem de mim as pessoas como fujo da minha cama, e eu as desejo como a minha cama me deseja, não consigo me relacionar bem como não consigo dormir bem, mas consigo me relacionar assim como a insônia não é eterna, tenho a minha cama como as pessoas me tem, e amo coisas da minha cama como algumas pessoas me amam.

Como chegamos a um raciocínio delirante, há uma conclusão possível: as pessoas desejam a mim na cama... ou pelo menos eu desejo-as desejando isso.

Me sinto bem melhor agora, vou escrever uns versos.

2 comentários:

Fernando Gomes disse...

gostei da parte que fala sobre a solidão..

mto bem observado..
acho que todos se viram completamente sozinhos em algum ponto da vida..

Karla Hack dos Santos disse...

A solidão foi tema do meu post de hoje no meu blog..
E devo dizer que a solidão, que dói, que vai além da auto-suficiência, é difícil de lidar..
Seu desabafo, combina com o que estou sentindo ultimamente..
Esta confusão quase delirante..

;D

bjus