Fui pegar o 020 no T. Praça da Bíblia, o relógio anunciava mais ou menos uma hora da tarde, o dissonante treze impregnado no tempo e eu entrando no ônibus junto com aquele fluxo ininterrupto de gente entrando entrando e entrando e empurrando e jogando a gente para cima dos assentos, acabei caindo em um assento ao lado de um sujeito um tanto arrumado, parecendo ter sua situação financeira parecida ou mais favorável que a minha. Ele era, de fato, um rapaz com roupas comuns: calça jeans, boné, camiseta ilustrada, tênis e barba jovial... Nada de importante, fiquei na minha, foi quando apareceu um homem metade desarrumado metade nem tanto, com boné, camiseta vermelha sem mangas, bermuda e chinelo, ele tinha uma feição de garoto de rua com uma feição de marginal favelado, típico cheira-cola, afinal ele cheirava a cola, junto a ele estava uma moça, esta prefiro resumir: ou ela saiu de um romance naturalista bem a moda brasileira ou dos quintos do inferno. Os dois fediam, mas não me importei, apenas me retirei do banco pedindo a um deles para se sentar e fui ficar de pé, até meio com remorso de um certo preconceito tido por eles, além do mais, os três conversavam entre si e eu estava odiando aquilo, a conversa envolvia palavreados e impropérios que eu não estava gostando, pois, estava de pé e aquilo não estava me incomodando mais... o tempo de uma aposiopese passa e eles começam a incomodar, não só a mim, mas todos no ônibus, a segunda pessoa descrita neste relato era um drogado que resolvia se intrometer nas conversas das pessoas, ameaça-las e bater na janela querendo impor alguma coisa, falava mole e xingava, a moça era um demônio, além dela irritar a todos com o estrepitoso barulho de sua boca a mastigar algo gosmento, falava alto palavrões, ria do drogado e de uma quarta pessoa não descrita neste relato, quase estas pessoas foram expulsas do ônibus, pelo menos estas poderiam ser expulsas, mais à tarde, no ônibus indo do Centro para o Veiga Jardim, vi uma invasão de vários cheira-cola, eram muitos, tantos que eles passavam por baixo da catraca usando do medo do motorista para ele não fazer nada, além de xingarem e ameaçarem uma ou duas pessoas do ônibus, enojavam o ônibus inteiro com o odor que vai de cola à urina. Não era agradável ver principalmente os trabalhadores e senhores que pegam aquele ônibus fazerem de tudo para tapar o nariz enquanto eram desrespeitados... A título de curiosidade, peguei nove ônibus hoje...
Naquela manhã, eu estava lá observando um trabalho de extensão ser defendido entre emoções, feminismos e política dentro da Faculdade de Letras, já havia observado antes uma apresentação de projeto, não me lembro se era um início de um projeto de mestrado ou se era uma apresentação de conclusão de curso, lembro do tema, que era: A Função Social da Arte, com base em um livro de Victor Hugo chamado em nossa língua materna de “Os Miseráveis”, lá uma das meninas da platéia que já havia apresentado antes seu trabalho disse que se a arte se manter no campo da estética ela irá se acaba, pois nosso tempo anda fascinando-se mais com a tecnologia e com os trabalhos sociais, fiquei entristecido com o utilitarismo daquelas palavras e daquela apresentação. Eu amo a estética, eu valorizo o inútil, eu existo como homem e não quero virar máquina.
quinta-feira, 6 de março de 2008
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10 comentários:
O texto lembrou-me (com as devidas proporções consideradas) aqueles exercícios poéticos marginais pós-modernistas que Leminski, Chacal e Pedro Lage faziam.
Narrativa ligeira, muito virgulada mas ao mesmo tempo polissindética.
Mas vale.
Hugo é dos melhores românticos.
Vale tb.
Pois é, é capaz de lembrar uma aventura formal mesmo, mas nem pensei nisso, rs, até porque não trata-se de uma poesia como no caso dos marginais pós-modernistas e também porque eu odeio os marginais pós-modernistas...
Acho que o que ocorreu no caso lá foi uma má interpretação do Hugo na hora de usar o texto para defender uma função social na literatura, ou talvez não tenha sido isso...
Cara, vc pegou nove onibus hoje?
Q situação...
Mais a maioria das capitais brasileiras está em um estado de preocupação a tempos
E em relação ao argumento da garota na apresentação, ela falou mais pra causar impacto do que um pensamento realmente pensado.
Belo blog, vc escreve com muita precisão!!!
http://cativagoogle.blogspot.com/
Já vivi situações parecidas, acho que quase todos das metrópoles brasileiras vivem situações semelhantes, mas a maneira como cada um descreve faz a diferença. E você o fez de uma maneira singular, colocado de maneira bem interessante.
Blogs como o seu estão em falta.
e há pessoas que insistem em se manterem em seus cérebros irracionais totalmente desprovidos de simbologia. Quem despreza a estética está fadado à cegueira da razão manca, alheia à emoção.
só o joão pra fazer eu ler alguma coisa essa hra do domingo :)
realmente, além das suas habilidades publicitárias, suas habilidades descritvas são ótimas. imaginei o onibus e as pessoas direitinho x)
parabens joão :*
Meu esposo é motorista de ônibus, e ouço todos os dias fatos semelhantes e piores do que esses...
Apartir do momento que refletiu, ja não vai mais ser maquina se continuar a pensar assim...
odeio pegar aqueles onibus que passam no meio da vila. Eu pego o que passa na principal de porto alegre e vai pro centro, 99% de estudantes e trabalhadores. Tinha um que eu pegava pro colegio que passava no meio da vila, as vezes entrava uns cara e infectavam o onibus todo com o cheiro da cola e da asa.
se puder visita:
www.frieiracerebral.blogspot.com
Oi, Marra.
Cheguei aqui pela comunidade Blogger.
Gostei dos teus relatos e de saber que valorizas a boa música e a literatura.
Eu tbm aprecio o belo (e limpinho hehehe).
Beijos da gaúcha
Fada
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